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Infoglobo: rebranding do papel ao digital
A Infoglobo está entre os maiores produtores de conteúdo do Brasil, mas anda tranquila e anônima pelas ruas. Famosos como…
A Infoglobo está entre os maiores produtores de conteúdo do Brasil, mas anda tranquila e anônima pelas ruas. Famosos como O Globo, Extra e Expresso, os três jornais que ela encampa, costumam lhe roubar o nome e também a identidade. Há um motivo para isso, talvez dois ou três: a Infoglobo é uma marca estritamente B2B, ela não está e nem estará na primeira página. O reconhecimento relevante para o negócio vem dos bastidores: parceiros comerciais e o público interno precisam confiar na marca. Mas como acreditar em alguém que você não conhece?
Foi deste ponto que partiu o processo de rebranding da Infoglobo conduzido pela CRAMA Design Estratégico. Meses de trabalho com profissionais das áreas de Estratégia, Design e Identidade Verbal empenhados em ajudar a marca a encontrar seu eixo e força comercial.
“Os funcionários não se reconhecem como da Infoglobo. Eles trabalham no Globo, no Extra ou no Expresso”, conta Milene Cater, Supervisora de Contas da CRAMA e parte da equipe que entrevistou os colaboradores e diretores da companhia, incluindo o presidente Marcelo Novaes.
Não basta conhecer, tem que acreditar. A morna adesão interna à cultura organizacional é sintomática de questões mais profundas. A Infoglobo não é uma completa desconhecida. As pessoas lembram o nome, mas se identificam mesmo é com a personalidade. Afinal, quem é e do que é feita a Infoglobo?
Estratégia: para além do papel
Os três “Os” em azul presentes na antiga marca assinada pelo mestre Alexandre Wollner convocam as engrenagens do parque gráfico para não deixar dúvidas: nós fazemos jornal e somos de papel.
Em plena novíssima era digital, temos aqui mais um problema, não?
“O rebranding chegou num momento muito propício. Nova gestão, RH reformulado, novos produtos criados e a mudança para um prédio novo, construído para fomentar a integração entre as equipes dos jornais”, adianta Ana Cotta. “A marca queria consolidar este momento com um pensamento diferente: mais aberto, inclusivo, que contemplasse também o digital”, completa a Gerente de Criação da CRAMA.
Quando Jeff Bezos, o bilionário fundador da Amazon, teve de vir a público se explicar (sim, foi quase isso) por ter amealhado o combalido The Washington Post, ele disse: “Eu não entendo nada do negócio de jornais, mas sei uma coisa ou outra sobre Internet”.
O modelo de negócio do jornalismo impresso sofre cos efeitos colaterais da senioridade e não roda mais sem a Internet. Ainda assim, um dos homens mais ricos do mundo o pede em casamento. O que há de tão atraente no velho jornal, que é capaz de transcender e triunfar em jovens tempos digitais?
Opinião. Ela, a quintessência do jornalismo. Seja em meio impresso ou digital, somos todos atraídos pela opinião do jornal.
“Somos feitos das opiniões que se tem notícia”
“Dois pontos, abre aspas, que nós temos algo a dizer”, diz Ricardo Leite, Diretor de Criação da CRAMA, referindo-se à solução gráfica que traz o logotipo ‘infoglobo’ acrescido de ‘dois pontos’. Com o recurso visual que alude à iminência de se emitir uma opinião, a marca reafirma o posicionamento de quem tem sempre uma voz.
A palavra ganha destaque nas peças de comunicação, em sua maioria all type. “A identidade visual é quase cartesiana, sem firulas gráficas, justamente para que o texto — a opinião — tenha o seu espaço”, explica Ana Cotta. A Gerente de Criação da CRAMA conta ainda ter se inspirado no portfolio do designer italiano Massimo Vignelli (1931-2014) para compor um visual seco e atemporal: “O trabalho do Massimo tem esta economia de elementos que transmite integridade, é quase soberbo. A Infoglobo possui uma linha editorial muito sólida. Ela tem certeza de quem é. A marca pedia esta autoridade. Não sobre os outros, mas sobre ela mesma”.
Estratégia e Design se encontram
De filho para mãe, do jornal O Globo a nova identidada abraça o tom de azul e a tipografia (Futura). “O Globo é, hoje, o produto que empresta sentido à Infoglobo. Potencializar esta percepção é interesante em vários sentidos para a marca”, analisa Ricardo Leite.
Na paleta de cores, o ar contemporâneo e sóbrio fica por conta do azul escuro, que encontra no verde cítrico o contraponto para flertar com a modernidade.
O logotipo ganha ainda mais personalidade com a junção das letras O e G. “A integração era um objetivo a se considerar com este rebranding. Os funcionários precisam, com o passar do tempo, se enxergar integrados a uma só empresa: a Infoglobo. Visualmente, a união das letras também dá um ‘it’ à marca”, explica Ana Cotta.
Em um processo de rebranding, uma nova roupagem visual é sempre o desdobramento de um projeto que avalia holisticamente a marca, como entidade dotada de personalidade e valores e também como business. A Infoglobo buscava uma cara para traduzir o seu novo jeito de fazer negócio: em tempos digitais, um posicionamento para além do jornal de papel combinado à percepção de empresa moderna e, operacionalmente, integrada.